Estamos vivenciando um mundo em transição, em que os direitos sociais que as pessoas adquiriam em anos de trabalho estão sendo postos em questão, não pela sua justiça, mas pela impossibilidade de tais benefícios serem pagos pela sociedade.
Em complemento a isso, os governos em face da necessidade de reduzirem seus custos e de muitas vezes a opção de gastar bem o dinheiro que arrecadam ser de difícil execução, pelas restrições impostas pelas leis aos administradores públicos, acabam por preferir cortar programas sociais de muita importância para as camadas mais pobres da população.
No plano privado, observa-se que as pessoas continuam a ter o desejo de ajudar seus irmãos menos favorecidos, mas a pressão sobre seus ganhos e as incertezas trazidas pelas instabilidades econômicas faz com que reduzam suas doações e verifiquem se o seu efeito efetivamente atingiu melhorias significativas para as comunidades onde são aplicadas.
Este quadro direciona os empreendimentos com finalidade social para a busca da autossustentabilidade, isto é, conseguir com o tempo que as instituições com objetivos sociais consigam arrecadar recursos provenientes do trabalho que fazem de maneira a mantê-la em operação, com a gradativa redução da necessidade de doações para que isso aconteça.
Seria isso possível em organizações sociais sem fins lucrativos? Certamente em vários casos é possível criar uma forma de obter um empreendimento social autossustentável. Vamos exemplificar: a Realice é uma entidade de finalidade social que atende a uma comunidade muito pobre e em condições tais que se torna difícil que os componentes dessa comunidade venham a competir por um emprego no mercado formal. A comunidade é composta de mulheres que tem vários filhos, mas cujos pais não estão mais ao lado de suas mulheres e filhos. Resta às mulheres dar casa, alimentação e tudo mais que seus filhos necessitam.
A solução foi recolher lixo e reciclá-lo de modo a obter matéria prima necessária para que as mulheres desta comunidade façam objetos que possam ser vendidos, como bolsas, velas, enfeites, etc.
Ainda, a partir dos produzidos pela comunidade, criou-se uma rede de pessoas que vendem os produtos e que pertencem a uma classe economicamente mais favorecida que as que compõem a comunidade.
O que se recolhe de dinheiro com a venda dos produtos criados pela comunidade paga o esforço de venda e resta um valor capaz de sustentar a entidade de finalidade social e também as pessoas componentes da comunidade.
Nos anos iniciais de vida da instituição social ela teve de receber ajuda de pessoas que fizeram doações para viabilizar a construção da situação final que apresentamos, em que a instituição ganha o suficiente para se manter e aos seus beneficiários.
Claro que o sucesso de uma instituição social com a que exemplificamos estimula que outras a sigam, mas também provoca o surgimento de mais pessoas necessitadas buscando sua proteção. Nesse ponto temos necessidade de mais doações para ampliar a instituição e certamente será mais fácil obter doadores, pela credibilidade que será apresentada pelo empreendimento social.
Em conclusão, os modernos empreendimentos que buscam melhorar as condições de vida de comunidades, em aspectos em que se faz necessário um apoio externo à comunidade para que sejam vencidas as dificuldades, devem criar modelos de funcionamento que visem atingir a autossustentabilidade.
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Este tema tem recebido excelentes contribuicoes da Ashoka.
ResponderExcluirEsta organização é um exemplo de um verdadeiro empreendedorismo.
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