quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não basta preencher o Canvas

A contribuição de Osterwalder para o empreendedor conseguir definir seu modelo de negócios é bastante significativa. Seguindo sua metodologia de construir o Canvas, o empreendedor tem uma forma didática bastante clara e ordenada para atingir bons resultados. Mas, é preciso tomar alguns cuidados básicos e não esperar excessivamente da ferramenta. O cuidado maior é evitar que o preenchimento do Canvas seja algo mecânico que basta responder o que cada quadradinho pergunta: não é assim. Há necessidade de construir um todo consistente, em que as partes só se compõem se tiverem sido imaginadas de maneira criativa e buscando integrar as ideias envolvidas. Não esqueçam de que tudo que se coloca no papel precisa ser testado: o papel aceita tudo, mas se a realidade rejeitar você precisa voltar para a prancheta. Se você conseguir preencher o Canvas com competência e depois os testes de campo confirmarem as suas hipóteses e as ideias que você lançou forem validadas pelo mercado, então você conseguiu passar esta etapa. Mas, ainda assim não pense que não vai ser necessário fazer um plano de negócios: esta ideia tem sido dita por varias pessoas, nitidamente exagerando o valor da metodologia, sem levar em conta que o plano de negócios contém elementos que não estão presentes no Canvas mas necessários para a implantação de sua empresa. O estudo do mercado e dos concorrentes, com a formulação de uma estratégia de entrada no mercado, é algo que faz parte do plano de negócios e que precisa ser muito bem trabalhado pelo empreendedor. A organização da empresa, os recursos humanos necessários e seus processos são aspectos de um plano de negócios que precisam ser bem pensados pelo empreendedor e só aparecem de modo superficial no Canvas. Finalmente, o planejamento financeiro é uma parte fundamental para permitir ao empreendedor saber por que mares está navegando: o Canvas não lhe dá nem mesmo o mínimo que é necessário para implantar com sucesso uma empresa. É evidente que o plano de negócios não é algo sacrossanto que é feito uma vez e depois ninguém mais atualiza: alguns dizem que não pegam mais no plano depois que conseguiram entrar para uma incubadora ou que conseguiram os investidores para a empresa. O erro é que o plano de negócios foi tratado inadequadamente por quem pensa desta maneira: ele deve ser algo vivo e sofre revisões, a medida que o empreendedor vai conhecendo melhor a realidade e aprendendo mais sobre seu negocio. Infelizmente para os que acreditam que basta fazer um Canvas e que depois o empreendedor vai ficar livre de planejar, devo dizer que este é um engano grave. Ao contrario, ele deve aprender que planejar será sempre uma de suas atividades permanentes e que será um fator essencial para seu sucesso.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bons exemplos a serem seguidos

Temos evoluído bastante aqui no Brasil, em tudo que se trata de empreendedorismo, mas a politica que pauta as ações governamentais e as entidades do governo não tem tido muita continuidade em suas iniciativas. Um exemplo disso é o que aconteceu com a FINEP em relação ao Prime - Primeira Empresa Inovadora, um programa que facilitava bastante o empreendedor na construção de seu empreendimento. Funcionou uma vez em 2009 e desde então não foi mais operacionalizado pela FINEP. Um bom exemplo na área governamental é o do Estado de Israel: o empreendedorismo foi considerado estratégico e como prioridade nacional. A partir daí foram criadas 25 incubadoras que têm sido mantidas pelo Estado e um mecanismo de financiamento de 250.000 dólares para os projetos inovadores que sejam aprovados dentro de um critério claro e construtivo. Depois de 15 anos de seguir esta politica, sem pular nenhum ano, houve uma evolução do critério para permitir que agentes financeiros que queiram investir nas empresas nascentes israelenses possam se associar através das incubadoras e isso trouxe mais 14 bilhões de dólares para os empreendedores israelenses, além do que o governo já investia e manteve. Por isso, lemos tantas noticias de sucesso trazidas pelas empresas dos jovens daquele país. Claro que é também importante o ambiente de pesquisa das universidades, como é o caso do Technion e outras mais que participam deste ambiente empreendedor e de construção de inovação. Será que, neste momento em que a presidência do Brasil busca parcerias estratégicas para formar pessoal de alta qualificação, não seria também oportuno e conveniente pensar em estabelecer um politica governamental para o empreendedorismo, inspirada no exemplo israelense? Compreendo as dificuldades de se implantar novos processos e politicas no Brasil, mas esse desafio pode ser compensado pela solução do dramático atraso nacional em relação à inovação e a nossa péssima colocação no ranking mundial desta área. Do que estamos falando em termos de recursos? Se imaginarmos que, num primeiro momento, o governo brasileiro escolhesse as vinte melhores incubadoras de empresas do país e passasse a dar a elas condições de prestar um bom serviço, poderíamos estar falando em algo como R$ 120.000.000,00 por ano, contemplando cada incubadora com R$ 500.000,00 a cada mês. Se ainda imaginarmos que seja restabelecido o Programa Prime, com a geração de 30 novas empresas em cada incubadora por ano, cada uma recebendo cerca de R$150.000,00, teríamos 600 novas empresas que consumiriam R$ 90.000.000,00 por ano. O resultado é que poderiam ser implementadas essas ideias com apenas R$ 210 milhões em cada ano. O governo de Israel investe 500 milhões de dólares por ano em programa similar. Presidente Dilma, autoridades do Ministério de Ciência e Tecnologia, leiam este blog, podemos ajuda-los a implantar programas simples, eficazes e que se pagam em pouco tempo. Já imaginaram esta novas empresas retornando em impostos e empregos todo o investimento feito, em menos de cinco anos?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Acelerando uma empresa II

Conforme anunciado no blog anterior, onde descrevemos as características das aceleradoras de empresas iniciantes, veremos agora quais os critérios que o empreendedor deve levar em conta para escolher uma aceleradora.

Certamente o suporte que a empresa irá receber da aceleradora tem enorme peso nessa decisão. Para um empreendedor são relevantes os seguintes tipos de apoio da aceleradora:
- na organização da empresa e nos processos que vai adotar – em geral, mentores desempenham este papel;
- na penetração no mercado por meio da cadeia de relacionamento da aceleradora;
- na busca de investidores para viabilizar projetos da empresa e seu desenvolvimento;
- na globalização da empresa, seja pela sua atuação no mercado internacional, ou através de seu estabelecimento e operação em mercados fora do país.

Naturalmente, o empreendedor terá de considerar o beneficio adicional que a aceleradora vai trazer ao seu empreendimento, comparado ao percentual das ações que vai ficar em seu poder.

Por exemplo, uma aceleradora que seja capaz de oferecer um elenco de mentores que conheçam bem o processo de constituição da empresa e tenham experiência em lidar com este tipo de empresa nascente é um fator importante para que o empreendedor faça sua opção.

Outro item é a sinergia entre as empresas da aceleradora: a existência de empresas complementares e que possam atuar em conjunto, favorecendo o seu crescimento global, ajuda bastante a ampliação da clientela, a ocupação de espaços de mercado e a criação de soluções comuns.

Não há padrões estabelecidos para mensurar estes fatores, aqui comentados. Vemos aceleradoras que preferem ter menos de 50% das empresas, mesmo quando contribuem com recursos financeiros para desenvolver os planos da empresa. Este posicionamento visa a favorecer o empreendedor e a valorizar sua dedicação no processo de criação e desenvolvimento da empresa nascente.

Também se preocupa com as futuras diluições causadas pela entrada de novos investidores, o que é necessário em muitos casos, para explorar adequadamente a potencialidade da empresa. Uma diluição muito grande dos empreendedores os desestimula a continuar o negócio ou implica na redução de seu empenho.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Acelerando uma empresa I

Uma visão que o empreendedorismo brasileiro desenvolveu foi a incubação de uma empresa. Ideias de empreendedores, com algum amadurecimento e transformadas em planos de negócios, conseguiam ser aprovadas por incubadoras, especialmente as ligadas a Universidades. Essas instituições observavam as características dos sócios da futura empresa e o quanto o plano de negócios estava bem preparado.

Os aprovados neste filtro eram normalmente levados a uma banca que dava o veredicto final, após a apresentação do plano de negócios pelo empreendedor. Os que tivessem sucesso na banca instalavam suas novas empresas na incubadora e tinham cerca de dois anos para mostrar a viabilidade da empresa. As incubadoras estabeleciam metas a serem atingidas para que a nova empresa pudesse concluir com êxito seu período de incubação. Essas metas eram em termos de produtos e serviços oferecidos, a clientela conseguida, o faturamento anual obtido e a montagem da organização da empresa com sua equipe e processos.

Após esta fase, se concluída com sucesso, o empreendedor saia da incubadora e passava a ter novo endereço para sua empresa, assim como outra estrutura de custos. Precisava refazer o plano para seus próximos anos, quando deveria aspirar ao crescimento da empresa e obter recursos para viabilizá-lo. Poucas foram as empresas que conseguiram impressionar investidores: eram ainda bastante pequenas e o risco para os investidores era muito alto.

Algumas conseguiram se desenvolver com recursos próprios, reservando uma parte do dinheiro que conseguiam ganhar para investir em seu projeto de crescimento. Outras poucas conseguiram investidores que nem sempre ajudaram muito para a realização do plano de desenvolvimento da empresa.

O conceito atual de aceleradora significa um repensar de todo este ciclo de criação e desenvolvimento de uma nova empresa: em primeiro lugar, o empreendedor é levado a pensar mais profundamente sobre suas ideias e a testar o seu modelo de negócios no mercado. Isso requer um suporte mais experiente para os empreendedores e também algum recurso para preparar e realizar essa prova. Sem passar por essa etapa, não há como investir tempo e dinheiro num empreendimento. Há inclusive certo exagero de alguns professores ao dizer que o plano de negócios morreu, pois só é necessário fazer e testar o modelo de negócios. Essa modelagem representa o básico para dar prosseguimento ao investimento no empreendimento.

Quando os envolvidos encontrarem um modelo de negócios que indique a possibilidade de sucesso do empreendimento, há a necessidade de fazer um bom plano de negócios. No caso da aceleradora, o empreendedor contará com uma equipe de mentores experientes, familiarizados com o desenvolvimento e organização de empresas.

O termo aceleradora vem exatamente da convicção de que o acompanhamento e o suporte da empresa nascente pode leva-la a um patamar de desenvolvimento bem superior ao que uma incubadora conseguia. É claro que o investimento em cada empresa nascente feito pela aceleradora é muito maior do que o realizado pelas incubadoras, que se limitam a lhes dar apoio na obtenção de recursos de entidades de fomento, orientação de professores e alguma logística, sem interferir em sua administração.

Pode valer a pena para o empreendedor aceitar ceder parte de suas cotas na empresa idealizada para contar com o apoio da aceleradora. Em nosso próximo blog vamos discutir os critérios para o empreendedor avaliar e escolher uma aceleradora.