sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os limites do crescimento acelerado

A febre de crescer de modo acelerado é decorrente de um vírus instalado pelos investidores no ambiente empreendedor. Cuidado: somos favoráveis ao crescimento acelerado de boa parte das empresas nascentes que já conseguiram passar em sua prova de conceito.

A demonstração de que tem produto, de que tem um modelo de negócios viável, de que é capaz de conseguir clientes e de atendê-los de maneira competente, respeitando prazos, especificações, qualidade e praticando preços dentro do mercado, são as condições que os empreendimentos nascentes devem obedecer para superar sua prova de conceito. Isso tudo deve acontecer no período de incubação.

Assim, empresas que conseguiram se graduar nas incubadoras muito usualmente passam por aspirar ao crescimento: melhorando seus produtos e serviços, ampliando seu mercado, estruturando melhor seus processos e buscando multiplicar seu faturamento e lucro.

Para isso buscam investidores e aceleradoras de empresas, ambos, parceiros ideais para a fase de crescimento acelerado que suas empresas precisam vivenciar.
Entretanto, os interesses dos investidores apontam para que a empresa tenha crescimento máximo assim como o da aceleradora. É bastante comum que o empreendedor também se engaje no mesmo objetivo. Até aí nada há de errado.

O problema é estabelecer qual é o ponto de máximo: isto é, cada empresa, dependendo de suas condições internas e de seu mercado tem um limite acima do qual o crescimento que venha a ter significará um risco muito grande de violar sua capacidade de absorver mais trabalho sem perda de qualidade, atrasos de prazos e insatisfações de seus clientes.

A percepção deste limite não é fácil e pode ser conseguida somente após ultrapassá-lo, quando problemas graves começam a aparecer. Uma sensação de impossibilidade de gerenciar a empresa, de modificar sua forma de atuação, de controlar seus compromissos é o conjunto de sintomas que permitem diagnosticar a overdose de crescimento.

Alguns parâmetros podem ajudar a evitar esses excessos: por exemplo, na fase de planejamento, quando se chega a um plano em que empresa dobra de tamanho em um ano, deve ser visto como um alerta para que se consiga evitar os riscos nesse processo.

Controlar indicadores que sejam voltados a verificar se a qualidade, em seus diversos significados, está sendo mantido, é algo essencial nestes planos e depois na sua execução.

Vamos crescer muito a cada ano, mas dentro do limite de risco: exceder a velocidade que respeita o cliente, a inovação, a qualidade de atendimento e que pode comprometer o futuro da empresa é quase um suicídio empresarial.

É nesse ponto que temos uma sutil diferença de ponto de vista entre o empreendedor e os investidores: sua preocupação é que os empreendimentos em que investem cumpram seus planos contratados ou até mesmo excedam as metas, pois deste modo poderão vendê-los a terceiros com a máxima valorização. Já o empreendedor tem uma perspectiva de continuar com o empreendimento e não permitir que um passo à frente além do limite venha a provocar futuros problemas, como a perda de clientela, de sua equipe de colaboradores ou a redução drástica em seus lucros. Quando isso acontecer, o investidor já terá vendido sua participação na empresa com um apreciável multiplicador. Caberá ao empreendedor e seus novos investidores enfrentarem a tempestade.

Um comentário:

  1. É isso mesmo, professor! Muito se fala sobre novas metodologias para acelerar startups, ao mesmo tempo em que se reduz o risco. Agora o que falta é inciarmos uma reformulação dos modelos adotados por investidores e fundos.

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